segunda-feira, novembro 29, 2004

Dá-lhe Gás

Dezembro.
Mês de Dezembro afigura-se como um bom mês para quebrar a rotina.
Montes e montes de trabalhos para entregar e começar a preparar as frequências.
6ªFeira vou ver Anathema(!?) em formato semi-acústico no IPJ. Vai ser bom. Um descarregar de emoções com os irmãos CAVANAGH.
No Sábado poderei ir porventura ao Rockhouse ver Aenima, vamos lá ver. No dia 12 esse irei lá de certeza para ver os ThanatoSchizo. Dia 18 é o regresso dos Heavenwood em força aos palcos tendo como anfiteatro o Hard Club. Este último não vou infelizmente, mas aos outros vou, tirando Aenima ainda não tenho a certeza, logo se vê.
Estou a precisar de fééérias. Mais três semanas. Falta pouco.

sábado, novembro 27, 2004

Intervalo

'Antefalhei a vida, porque nem sonhado-a ela me apareceu deleitosa.
Chegou até mim o cansaço dos sonhos... Tive ao senti-lo uma sensação externa e falsa, como a de ter chegado ao término de uma estrada infinita. Transbordei de mim não sei para onde, e aí fiquei estagnado e inútil. Sou qualquer coisa que fui. Não me encontro onde me sinto e se me procuro, não sei quem é que me procura. Um tédio a tudo amolece-me. Sinto-me expulso da minha alma.
Assisto a mim. Presenceio-me. As minhas sensações passam diante mim de não sei que olhar meu como coisas externas. Aborreço-me de mim em tudo. Todas as coisas são, até às suas raízes de mistério, da cor do meu aborrecimento.
(...)
Não aspiro a nada. Dói-me a vida. Estou mal onde estou e já mal onde penso em poder estar.
O ideal era não ter mais acção do que a acção falsa de um repuxo – subir para cair no mesmo sítio, brilho ao sol sem utilidade nenhuma a fazer som no silencio da noite para quem sonhe pense em rios no seu sonho e sorria esquecidamente.'


Tenho três crónicos cabelos brancos :\
Estou a ficar velhote, snif.
Estou com um aspecto horrível e os meus índices de letargia ameaçam atingir o auge.

sexta-feira, novembro 26, 2004

Sylvia

(...)
Dying
Is an art, like everything else.
I do it exceptionally well.

I do it so it feels like hell.
I do it so it feels real.
I guess you could say I've a call.

It's easy enough to do it in a cell.
It's easy enough to do it and stay put.
It's the theatrical (...)

quinta-feira, novembro 25, 2004

"Suspiro da Dor"

'Caí prostrado no chão...
Minhas pernas cedem ao peso do meu corpo.
Tento me agarrar a algo mas acabo por ficar de joelhos no chão.
Abruptamente sinto algo a vir do meu interior. Demasiado forte, acabo por não resistir. Olho para o chão. Olho para as minhas mãos - Sangue.
Minhas mãos estão cheias de sangue que convulsamente fluía da minha boca.
Golfadas e golfadas de sangue espesso, negro.
Sinto dor imensa nos meus pulmões.
Esboço um sorriso...
Curioso, dia após dia, mês após mês, ano após ano, meu coração que estava repleto de mágoa, dor, desilusão não cedeu. Resistiu a tudo, contudo, acabei por sucumbir aos meus pulmões, como se eles fossem o elo mais fraco do meu corpo.
Sinto-me cada vez mais fraco e continuava a perder cada vez mais sangue, força. Não resisto. Não, não quero resistir. Quero acabar tudo ali de uma vez.
Deito-me.. Fico espera do meu ultimo suspiro.
Lágrimas brotam dos meus olhos.. Choro, choro a mágoa que provocaste em mim. Choro a mágoa condensada ao longo de uma vida naquele cenário.
Vivi a vida a fugir, e deste cenário que se afigura como crucial eu afinal não fujo.
Nunca te disse o quanto gostava de ti. O quanto eras importante para mim... Mesmo sabendo que não era retribuído eu queria ter-te mostrado. Oh, meu deus. Onde estás? Com quem? Que fazes? - queria dizer-te que estava a morrer, aqui...
Nunca te disse que te amava, que te queria.. Nesse momento fugi.
Fugi, fugi, fugi!!!!
Quero que saibas que:
morri,
morri,
morri, mas sempre a pensar em ti....'

quarta-feira, novembro 24, 2004

Interlúdio

'Tanto foi o medo de ser fodido que, algures no percurso da minha vida, as pessoas desistiram de me querer foder e eu, sem dar por isso, fui andando, cabisbaixo, seguro e sozinho, impreparado para o único desfecho possível: não havendo quem me pudesse foder, não havia mais ninguém que o pudesse fazer.
Só eu. E pronto. Fodi-me.'

Into The Void.

Alguém já foi à 'Festa do Livro' na FIL?
Eu ainda não fui. Também confesso que os expositores que estão lá são poucos e muito pouco do meu agrado. Se lá fosse era apenas para dar um salto à 'Assírio e Alvim' que é a minha editora portuguesa de eleição, digamos assim.
Facto é que ao passar pelo Oriente a regresso de casa de vez em quando dá-me vontade de dar lá um salto, mas a vontade de vir para casa é mais forte que a vontade de ir lá. Aliás, diga-se que eu quando saio de casa a minha maior vontade e desejo é já estar a voltar. É bocado estranho eu sei, mas assim que estou a sair de casa a minha vontade é estar mesmo já a voltar. Às vezes dou por mim a desejar que algo aconteça a meio do caminho que me impeça de chegar aonde tenho de chegar e assim me faça sair do transporte público em que estou, atravessar a rua e voltar para trás o caminho todo. Não me importava de ser já reformado, desde que fosse uma reforma de gestor público, que as reformas do 'Zé da Esquina' não dá para nada – Bem-Vindo a Portugal.
Há um certo tédio na minha vida. Aborreço-me com tudo e mais alguma coisa. Aliado esse facto outro ainda que é a minha crónica falta de paciência para os outros é explosivo. Estou a ficar velho, deve ser isso, aliás, sinto-me velho, só não estou decrépito, ainda.
Tenho uma clara falta de paciência para o “outro”. Dou por mim rodeado de pessoas, caras e conversas que me entediam. Às vezes dou por mim entre conversas de colegas que me dão a volta à tripa. Assuntos tão fúteis como eu fui ao Bar Xpto, levei com ela a primeira vez, eu apanhei uma bebedeira no bairro alto ( uuuh, eu sou um 'granda maluk' ), oh god. Não consigo aguentar a conversa até ao fim. Tenho que sair dali e isolar-me porque prefiro estar sozinho do que a ouvir tais conversas.
Dou por mim numa sala com mais 59 pessoas das quais não sinto quase nenhuma empatia, nem tenho vontade de ter.
Vejo-me no topo. No tecto da sala de aula, aonde tenho a oportunidade de ver como se o maestro tivesse a dirigir os seus músicos todos vestidos de gala, todos iguais, estandardizados e existisse ali no canto um, um outro que não tocava, não fazia nada. Ficava apenas inerte, catatónico a olhar para os outros.
Devo ter a mania que sou diferente dos outros, deve ser isso. Quero acreditar que sim, que sou diferente. Não sei o que me faz ver ou pensar que as minhas conversas poderão ser menos fúteis que as dos outros, que a minha maneira é melhor ou pior que as dos outros ou se os outros poderão achar o mesmo das minhas coisas o que acho das deles, porém, quero acreditar que sou diferente. Mas se calhar no fundo, no fundo, somos todos a mesma merda.

Melomania

terça-feira, novembro 23, 2004

Eu e Tu. Tu e Eu. Nós.

uma pessoa com uma infância mais ou menos feliz
com uma família mais ou menos feliz
com um progresso escolar mais ou menos feliz
com relações mais ou menos felizes
com primeiros empregos mais ou menos precários
com um salário mais ou menos miserável
com um novo emprego mais ou menos seguro
com uma relação mais ou menos feliz
com um casamento mais ou menos feliz
com uma casa mais ou menos sua
com uma divida ao banco mais ou menos preocupante
com um emprego mais ou menos frustrante
com 2 filhos mais ou menos felizes
com um futuro mais ou menos preocupante
com uma saúde mais ou menos preocupante
com uma reforma mais ou menos inexistente.

Somos um país de mais ou menos?

segunda-feira, novembro 22, 2004

I woke up early the day i died.

Não se passou nada naquele dia. Nada naquele, nada hoje nem nada amanhã.

sábado, novembro 20, 2004

'Search Me Not'

'The pain, the lies, they multiplied, it got too much for me
I have locked myself inside and swallowed up the key
I close the lights, I take all night, I'm such good company
Don't call me at home, I've cut the phone, I'm as I wanna be

Search me not, please search me not
The door bell it hurts my ears
Nailed my hands to the ground
I feed on my blood and tears

I have tried to socialize, it always got me down
Deceived and hurt by the ones I loved,
Why should I stick around?

Search me not, please search me not The door bell it hurts
I've nailed my hands to the ground
I feed on my blood

Search me not, please search me not
I am living such a beautiful thing
I've nailed my hands to the ground
I'll grow myself some wings

I like to be alone I do, I love the loneliness'

quinta-feira, novembro 18, 2004

Fragmentos - II

Bruno.
Bruno levanta-se de manhã. Ergue-se da cama e senta-se. Acende a luz do candeeiro num movimento de “sorte” no escuro e acende a luz. Vê as horas. Já é dia, mas lá fora através dos estores ainda é noite.
Bruno olha-se através dos espelhos do seu armário enquanto está sentado na cama. Olheiras. Fundas e negras. Sono. Muito sono.
Bruno levanta-se, lava-se e come. Veste-se e prepara-se para sair cumprindo todas as tarefas maquinalmente olhando para os segundos do relógio. Olha para a sua mochila no chão. Pega-a. Ao pegar na mochila já devidamente equipada para mais um dia ele tem vontade de cair. Ir de encontro ao chão e ficar ali, inerte à espera que o tempo passe sem rumo ou destino. Apenas passe.
Bruno reage. Pega na mala e mete-se a caminho.
Bus, comboio, metro, faculdade. Faculdade, metro, comboio, bus – Rotina de Bruno.
Fez-se ao caminho no seu trajecto diário.
Barulho, buzinas, fumo, ruído e rostos. Rostos. Bruno vê demasiados rostos todos os dias. Centenas de rostos. Às vezes, Bruno pensa no que estará por detrás dos rostos. Histórias de amor, tristes, mentiras, traições, inveja e inocência. Pensa se não estará ali, no molho de gente que vê diariamente no seu trajecto a felicidade de algumas pessoas que por aí passam perdidas em busca também elas de um rosto por aí perdido.
Bruno pensa. Pensa de mais.
Sol já brilha por entre o nublado fumo citadino. Bruno chegou à “Babilónia”. Apressa o passo e sobe a rua que o leva à sua rotina.
Entra na Faculdade.
Rostos, rostos e mais rostos.
Bruno não gosta do ambiente. Demasiados rostos. Demasiada confusão. Tenta não olhar para nenhum, olhando para o chão percorrendo os corredores que o levam à sala de aula. Bruno começa a suar ao longo do caminho. Demasiados rostos. Demasiada felicidade nos rostos. Sente-se mal. Tem vontade de fugir daquele lugar. Não gosta. Acha aborrecido as pessoas e os rostos que o povoam. Bruno não tem vontade de estar ali com aqueles rostos. Desejava que eles pudessem desaparecer num ápice. Bruno sente-se sozinho no meio de tanta gente. Ele bem tenta lidar com os rostos mas não consegue. Acha-os aborrecidos e prefere estar sozinho com a sua mente do que com os diversos rostos que povoam aquele lugar.
Sente-se mal.
Queria mudar-se e mudar o mundo. Mas não consegue. Não tem forças.
Está na flor da idade num local onde muitos gostariam estar, porém, sente-se mal. Não consegue gostar do que faz. Acaba por ficar estarrecido a ver o tempo a passar e a fingir que está dentro da realidade.
Bruno encontra a sala perdida. É o primeiro. Entra na sala fria e sozinha e fica inerte à espera da aula. Sente-se bem, sozinho.
Está a chover. A chuva bate forte nos vidros e ouve o vento através das janelas metálicas na sala. Lá fora, no pátio, através das janelas, vê um casal de jovens a oscular-se de mão dada à chuva. Bruno sorri.
Gostava de ser como eles mas não consegue. Não vê esperança. Não vê amor.
Colegas entram na aula. Bruno começa a suar de novo. Colegas falam-lhe. Finge estar interessado em falar com eles também. Bruno só pensa em fugir dali. Sua cabeça repete maquinalmente: FOGE, FOGE, FOGE, FOGE, FOGE!!!!
Bruno está farto de viver assim. Inerte e sem gosto no que faz.
Quer desistir, porém, tem esperança que algo surja e o faça mudar tudo aquilo que conheceu até hoje.
Bruno espera.
Bruno anseia.
Até quando?! – pergunta Bruno.

Quantos “Brunos” andam por aí?

segunda-feira, novembro 15, 2004

My Cubical Emotion

O Pecado do Teu Corpo Causa-me Angústia.

Fragmentos - I

Há tempos ia eu no meu caminho habitual que me conduz diariamente a esse antro de bem estar (ironia ao quadrado) que é a minha faculdade quando encontro pelo caminho um amigo. Amigos há 11 anos, metade de uma vida. A minha vida.
Trocámos alguns minutos de conversa partilhando o mesmo trajecto. Tanto para dizer e tão pouco tempo para falar.
Conversa caiu para as relações. Ele claramente um Hedonista convicto interrogava-se do facto de eu estar sozinho enquanto os outros "evoluíam" – no sentido dele. Eu, claramente Racionalista, fiz-lhe ver que nunca gostei de ser como os outros – Porquê ser igual aos outros? – A normalidade "assusta-me" um pouco. Gosto da diferença, gosto de pensar que sou diferente, pelo menos quero acreditar que sim, o sou.
Segundo ele, eu teria a possibilidade de ter alguém ao meu lado ao contrario dele, contudo, nunca faria uso dessa minha "capacidade".
Dando-me uma série de premissas ele ia apresentando argumentos a favor do seu hedonismo e o seu ímpeto carnal. Eu ouvia-o com atenção, pensando interiormente que ele continuava o mesmo amigo de sempre. Nunca mudou, nunca irá mudar.
No fim do seu discurso eu mostrei-lhe o meu.
Há claramente hoje em dia um cariz descartável nas relações. Relações assumidas na noite entre um ou dois copos para aliviar o stress e a frustração semanal. Relações promiscuas, momentâneas onde impera o desejo e a satisfação carnal imediata.
Qual o objectivo deste tipo de vida? – do meu ponto de vista é apenas andar a tapar o sol com a peneira.
Relações baseadas da boémia é capaz de ter piada uma por outra vez, contudo, fazer desse tipo de situação a base para todas as relações é profundamente decadente.
A minha concepção de amor advém de uma ideia por ventura um tanto ou pouco romântica, não sei. Para mim o mais importante de tudo é facto as empatias. As empatias demoram tempo e não é entre dois copos e uma conversa fugaz com desejo de ejaculação que se consegue algo.
É bem melhor ter uma relação com alguém com que se sinta de facto uma atracão psicológica/física por uma pessoa e a gente se sinta identificados por uma série de factores do que uma realização carnal imediata baseada na boémia.
O amor demora muito tempo. Demora-se muito tempo amar, porém, é sempre melhor do que o carácter descartável que se vê hoje em dia.
É preferível demorar muito tempo a encontrar a empatia, a simbiose, mas de facto viver algo único na vida.
Daí o facto de eu não ter pressa de encontrar a minha empatia.
Daí o facto de eu estar sozinho.
Daí o facto de eu ser assim.

sábado, novembro 06, 2004

Ruídos!

Aconselho vivamente a audição dos Norte Americanos, Mellowdrone.
Para quem não sabe ou não conhece os Mellowdrone são liderados pelo jovem Jonathan Bates.
John, que desde logo teve tendência para a música começou a criar mais uns amigos música simples, frágil e bela no seu quarto nos arredores da Califórnia.
Promovendo a sua música ao longo dos tempos através do seu site: mellowdrone.com – conseguiu arranjar distribuidora/editora para lançar seus projectos. Até ao momento os Mellowdrone só editaram EP’s: Boredom Never Sounded So Sweet; A Demonstration Of Intellectual Property; Glassblower e Go Get’em Tiger. Este ano que aí vem está prometido o tão desejado LP. Ainda sem nome nem editora/distribuidora definida apenas se sabe o tão desejado LP será lançado em princípio primeiro na Europa e só depois na terra do Tio Sam.
Os Mellowdrone andam a cada vez mais a solidificar a sua estrutura/som. Sem pressas nem desejos de fama vão devagar consolidando a sua música. Passagens fugazes em anúncios da MTV Americana, Séries de TV (Six Feet Under) e jogos de vídeo (driver 3) fazem os Mellowdrone crescer dia após dia e passo a passo ganhar mais fãs.
Os Mellowdrone poderão ser uma boa banda sonora para quem gosta de: Jeff Buckley, Ours, Radiohead, Elliott Smith e por aí fora.
Aconselho a qualquer um adquirir os EP’s da banda. Recorram ao soulseek ou similares.
Uma música do futuro LP já anda pelo site de Mellowdrone. A música chama-se
Orange Marmalade (right-click and save) – não gosto muito do meio da música mas penso que no geral é “porreira” e o LP deverá ser um bom disco.
Experimentem e digam o que acham.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Fragmentos

'( ... )agora o amor é muito rápido, não marca passo como no nosso tempo.'

Bem-vindos ao Mundo Moderno.
Hoje em dia cada vez menos se tem tempo para tudo. Anda-se de um lado para o outro na correria diária citadina. Cada vez menos se tem tempo para respirar, aproveitar o silêncio, até porque, na cidade os momentos de silêncio são escassos.
Buzinas, buzinas, fumo, fumo, gritos, ambulâncias, aviões.
Olhamos em volta e estamos no centro do ruído moderno.
A cidade consome-nos. Faz-nos ter menos paciência para os outros e para tudo. Mesmo que não queiramos ser como os “outros” há claramente uma estandardização de comportamentos e acabamos por ser influenciados pela cidade.
Há quanto tempo não paras e olhas em silêncio o que está à tua volta? – Há muito decerto.
Mesmo que queiramos o relógio não permite. Saímos de casa com horário escalonado, marcado, rígido. Ir aqui, ir acolá, vir dali, ir para ali, pum.... Casa. Comer, dormir e amanhã tudo igual.
Andamos lentamente a morrer em virtude do relógio.
Chegamos a um ponto que paramos e vemos que não aproveitámos nada da vida, porque basicamente, ela não nos deixou aproveitar nada na correria louca das obrigações. Resta-nos o tempo fugaz entre os amigos, tertúlias marcadas pela frustração diária. O acumular de stresses semanais entre conversas também elas fugazes, porque amanhã é outro dia e tem que se aproveitar o nada.
Como ter paciência para o amor nos dias que corre? – Abençoado quem a tem. As relações tornam-se rápidas na ânsia de encontrar empatias. O desejo de encontrar o príncipe/princesa encantado/a faz com que uma série de etapas seja quebrada e diminuída. Para quê? – pergunto eu. Se acabarás no mesmo ponto de onde vieste. Sozinho/a aí, a procurar outra
empatia rápida.
Andamos a tapar as feridas com pensos rápidos. Contudo, apenas as tapamos, não damos tempo a elas para respirarem, cicatrizarem. As feridas curam-se ao ar livre, expostas. Não com pensos rápidos que apenas as tapam e as ocultam dos outros. Ninguém disse que era fácil. Faz algo por ti próprio.
Relações fugazes... Estórias tristes a dobrar, frustrações a dobrar, desilusões a dobrar, traumas a dobrar. Andamos todos acumular o dobro em tudo.
Os tempos mudam, claro. Devo ser um antiquado, talvez.
Há coisas que nunca deveriam ter mudado.

'Morrendo devagar, partícula a partícula. Ouço o som da morte na tua pele, livro que se encarquilha na câmara húmida do tempo. Os teus órgãos arrefecem – Há quanto tempo não te arde o coração?'