domingo, março 06, 2005

As Palavras Que Nunca Te Direi.

Não, não me morreste.
Dou por mim várias vezes a perder a cabeça e deixá-la fluir nas recordações das conversas que tivemos. Pequenos fragmentos que deixaram marca não só em mim mas nele também (tu sabes quem). Tal como vieste te foste, sumida no tempo e no espaço.
Não vou dizer que foste mais uma pq não o foste. Facto é que deixaste moça, deixaste estilhaços por onde andaste. Estilhaços esses que ainda estão cá e que invariavelmente irão permanecer como uma marca daquele tempo, daquele momento.
Acho que perdemos muito tempo. Acho não, tenho a certeza. Tudo tem um timing e acho que deixou-se as coisas ultrapassar o tempo que devia ter sido o correcto. A culpa foi minha, confesso. O facto é que as coisas pareciam perfeitas de mais. A ideia de que as 'coisas' não batiam certo e uma espécie do teu 'desespero' por algo mais levou-me a reflectir e a ter ou a tentar tomar o pulso à realidade e tentar racionalizar mais o que se estava a passar. É um erro tentar racionalizar o amor, é um erro que cometi, cometo e irei cometer toda a minha existência.
Ambos trazíamos e trazemos demasiados mortos dentro de nós. Seriamos apenas mais uma morte dentro um do outro. Não queria que fosses mais uma morte, pelo contrário, queria que fosses a vida, o catalisador da mudança. Que injusto e incorrecto da minha parte colocar em ti toda a esperança de uma mudança. Só isso levaria a falsas expectativas e a um falhanço total. Nas relações quem tem expectativas é quem se lixa sempre. Além disso a distancia complicaria muito mais. Complicaria muito mais a minha inata descrença no amor e a minha dúvida constante. Teria que fingir que acreditaria que seria possível quando na realidade não acreditaria mais ou teria grandes duvidas. A culpa foi mesmo do tempo perdido e aí eu assumo.
Não sou 'Egoísta e Egocêntrico' tal como me chamaste. Acho que não sou, e mesmo que seja, naquela situação acho que tinha um pouco direito a isso. Apenas queria o melhor para mim e o melhor pareceu-me ser a ruptura completa face à impossibilidade de manter aquilo que estava a acontecer ou entrar em algo que claramente me deixava em duvida. Acredita que eu bem queria, porém, a descrença era brutal. Tu mesma sabias disso, várias vezes o admitiste, mas nunca fizeste nada para contrariar ou então dizias para 'experimentar' e deixar que tu o proves ao longo desse mesmo período. Era difícil também provar alguma coisa nas circunstancias em que estávamos imbuídos. Mais uma vez coloco a culpa no excessivo tempo perdido. Compreende que tudo me surgia como algo dúbio. Antigamente os olhos ainda eram a salvação e um meio de verificar a verdade, hoje em dia já nem os olhos podem provar absolutamente nada. Há gente dotada para as artes do espectáculo. Há gente capaz de tudo.
Algum tempo após o fim, lembro-me como se fosse ontem, ia eu rua abaixo, deambulando pela cidade quando vi um rosto que me fez automaticamente lembrar ou puxar a tua memória à minha cabeça. Seguiram-se três dias verdadeiramente angustiantes onde era dilacerado pela tua memória, como se aquele rosto fosses tu e te deixasse fugir por entre os meus dedos pelo meio da cidade perdendo-te eternamente.
O processo de regeneração é continuo e ainda hoje passado uns bons meses ainda te vejo em alguns rostos ou na música dela (tu sabes quem). Mesmo depois do fim, ficarei contigo até aos meus últimos dias. Mesmo que não queira, farás parte da minha vida e terei sempre algo que me fará relembrar de ti. Ganhaste a imortalidade.
Soube que encontraste um ponto de abrigo passado uns três meses do fim ou algo similar. Acho que fizeste bem afogar a pretensa memória de alguém noutro alguém. Não, na verdade não acho bem. Mas cada um sabe de si. Espero que te tenha valorizado e tenhas encontrado a fuga para o teu 'desespero' e que te faça sentir bem. Algo que teoricamente querias que fosse eu a dar. Teoricamente, porque na pratica nunca saberei. Ficarei sempre na duvida, nos eternos "e se.... ".
O facto é de que hoje estou muito mais forte que ontem e amanha estarei muito mais forte do que hoje. A tua memória ainda me surge mas já não com a intensidade de logo após a ruptura e irá desfasar-se cada vez mais ao longo do tempo. Mas nunca deixar de existir.
Eu sei que me lês e me vês nos meus recantos. Acredita que te desejo o melhor possível, sim desejo. Nada de mal, pelo contrário. Desejo que encontres o teu caminho e que tudo te corra bem, sejas feliz. Cada um tenha aquilo que merece, seja bom ou mau. Todos acabaremos por pagar pelos erros ou ser recompensado pelas acções. O tempo dirá para que lado a balança pende.
Muita coisa poderia ser dita e não o foi. Muita coisa gostava de te ter dito e não o disse. Muita coisa poderia dizer aqui mas que não me surge.
Estas são algumas das palavras que gostava de te ter dito mas nunca te as disse.