sábado, maio 14, 2005

Fast Happiness.

Há uns dias atrás dias vivi uma situação curiosa.

Eu ía na rua acompanhado de uma amiga. Sabendo eu que ela normalmente traz consigo rebuçados de mentol, flocos de neve, hals e similares, pedi-lhe um, como normalmente lhe peço ou ela me oferece. Nesse dia ela disse que não tinha. Na mala dela, segundo ela, só tinha Prozac. A principio pensei que fosse uma brincadeira, sabendo ela da minha parafilia por tal medicamento, porém, na realidade ela não tinha de facto rebuçado algum e tinha isso sim, Prozac. Aliás, não era só Prozac, era também Xanax, Valium, alguns analgésicos como Ben-u-Rons e mais alguns medicamentos. A mala dela era uma mini-secção de ansiolíticos e antidepressivos de uma farmácia.
Lá me explicou o porquê de andar assim medicada e carregada.
Há uns tempos lembro-me de ter visto na TV que Portugal era o país da Europa que mais consumia antidepressivos e calmantes. Há tempos vi um outro estudo que dizia que cerca de 18 a 20 milhões de Americanos tinha problemas de depressão. 20 Milhões é um numero verdadeiramente assustador. Estados Unidos têm cerca de 250 milhões de habitantes, ok, não parece muito 20 Milhões, porém, 20 Milhões é cerca de duas vezes o número de habitantes de Portugal, no fundo, poderíamos fazer um país só de pessoas com problemas depressivos.
Há claramente um problema na sociedade de hoje em dia. Obviamente que há também um excesso de prescrição de tais medicamentos por parte dos médicos, psiquiatras, psicólogos e afins. Obviamente que há pessoas com enormes problemas na vida, traumas, doentes bipolares, distímicos e afins, porém, há também pessoas que têm apenas crises de melancolia, que por alguma razão ou outra nunca tinham sentido na vida, e logo que as têm vão a correr para o médico pedindo que ele lhes cure os sintomas anómalos nas suas personalidades até então. Os médicos vêem-se então na 'obrigação' de curar rapidamente os seus pacientes. Tome lá um Prozac, Valium, ou uma pílula Violeta ( Xanax ). Na realidade, muitos destes problemas não deveriam ser tratados desta forma, até porque, muitas destas pessoas não têm necessidade de facto de tomar estes medicamentos. Precisam, isso sim, é de férias, falar ou afins, nada de medicamentos. O acto de serem medicados para curar 'melancolia' só faz com que estes se estejam a enganar a eles próprios e se estejam a agarrar a uma 'coisa' quando na realidade a solução era e é muito mais fácil.
As pessoas vivem numa correria no dia-a-dia e nessa medida querem que tudo se concretize a correr, até as suas curas.

Faz este mês, 29 de Maio, três anos que uma pessoa conhecida, na altura amiga, se tentou suicidar. Felizmente não conseguiu perpetuar o seu desejo, mas irá sempre se lembrar do dia em que tentou findar a sua existência. No corpo ficou com as marcas, cicatrizes e ferros nos ossos. Na mente ficou pior do que o estado em que estava antes. E, se a vida era má até então, a partir daquele dia teria que viver com o estigma de ter sido alguém que quis morrer, tentou e não conseguiu. Quase que ficava paraplégica. Felizmente escapou.
Lembro-me perfeitamente dos dias antes dela ter consumado tal acto. A troca de mensagens e de conversas que eu tive com ela tentando aliviar ou fazendo-a ver que o seu desespero não tinha razão. Eu estava com 18 e ela cerca de 16 a cair para os 17 nesse ano, senão me engano. Ela tinha uma história complicada, aliás, tal como todas as miúdas com quem eu me deixo envolver, é a minha sina. Uma série de más experiências amorosas, principalmente uma que tinha tido um fim mais ou menos trágico e dramático, tinham-lhe dado cabo da cabeça e da vida até então. O desespero por não ver a luz ao fundo do túnel, e acima de tudo, o desespero por não querer esperar por ver o que estava lá ao fundo, e o que o tempo reservava, fez com que ela tivesse aquela atitude para com ela mesma.
Por uma série de razões diversas, um tempo de depois cortámos relações. Acabei por lhe perder o rasto. Se bem que sempre que posso vou tentando saber noticias dela, aliás, tal como faço com quem passa pela minha vida. Nunca mais a vi. Às vezes tenho vontade de a encontrar no caminho e de ver como ela está hoje em dia.
Há um espaço entre, sei lá, entre os 13 até aos 18, dependendo das pessoas, uma fase em que se pensa que a vida acaba ali e para além daquilo não há nada mais. Pensa-se que por não se ser amada/o naquele momento, fase, vai-se ficar assim o resto da vida. Não há paciência para esperar pela vida e ver o que de facto ela nos reserva. Ela estava assim, sem paciência para esperar pelo destino.
A vida às vezes é lenta no ajuste das coisas. Há que saber esperar também. Infelizmente há sempre as pessoas mais dramáticas e mais apressadas que querem tudo mais rápido e sempre a correr.

A maior parte das pessoas tem traumas, fragmentos, estilhaços vários no seio das suas personalidades. Todos nós temos os nossos pequenos problemas e traumas, todos nós temos as nossas frustrações. Como dizia Freud, todos nós somos neuróticos. Há que viver com isso mesmo. A vida não é fácil, não, não o é. Nem todos nós vamos poder casar, ter três filhos, uma casa grande, um cão e iremos viver felizes para sempre. Isso são realidade utópicas e apenas uma pequena parte das pessoas têm oportunidade de viver de facto assim. Contudo, temos sempre que ter calma e paciência para ver o que a vida nos reserva. As realidades nem sempre são constantes, e acima de tudo há que fazer algo para as mudar. Quem fica catatónico a olhar para a realidade que tem, é óbvio que ela não vai mudar. Há que fazer algo, algo por nós.
A maior parte das pessoas que conheço não gostam da vida que têm. Eu também não gosto da minha. Poderíamos ter sempre uma melhor, porém, ela também poderia ser bem pior do que é neste momento.
A maior parte das pessoas com que lido no meu dia-a-dia tem algo contra o sexo oposto. Más experiências e nessa medida acabam por estandardizar aquilo que vêem e aquilo que viveram a toda a realidade.
A frustração é algo sintomática da realidade hoje em dia. Isso e o facto de que cada vez mais andamos agarrados a comprimidos quando na realidade a solução por vezes, mas nem sempre, passa por nós mesmos, faz-me pensar que estamos alicerçar toda a nossa sociedade sobre uma bomba relógio. Só falta alguém acender o rastilho.